viernes, 2 de diciembre de 2011

II Seminário Internacional de Crítica Literária

quarta 7 a sexta 9 de dezembro
A crítica literária atual se depara com um cenário novo e desafiador. Como lidar com as interações entre autor e exposição midiática intensa, produção literária e intercâmbio cultural, literatura e hibridismo artístico? Qual o sentido da crítica nos dias de hoje? De 7 a 9 de dezembro, o II Seminário Internacional de Crítica Literária explora essas questões, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo.

Participam do evento intelectuais e críticos brasileiros e estrangeiros como Marjorie Perloff (Estados Unidos), Marisa Lajolo (Brasil), João Cezar de Castro Rocha (Brasil), David Toscana (México), Berthold Zilly (Alemanha), Luiz Costa Lima (Brasil) e Mario Perniola (Itália), além de outros escritores, teóricos, tradutores e filósofos, de várias nacionalidades e linhas de pensamento.

São 8 convidados internacionais e 11 nacionais. Os debates têm curadoria da escritora, professora e pesquisadora Maria Esther Maciel e da consultora e produtora cultural Selma Caetano. A mediação será realizada por 6 especialistas brasileiros.
Confira abaixo a programação e mais detalhes sobre os entrevistados.


II Seminário Internacional de Crítica Literária
quarta 7 a sexta 9 de dezembro

entrada franca - ingresso distribuído com meia hora de antecedência
reserva para grupos: itaucultural@comunicacaodirigida.com.br


quarta 7

17h30 O Papel da Crítica no Jogo entre Realidade e Ficção
com David Toscana (México) e José Castello (Brasil)
A literatura não tem compromisso algum com a explicação, mas, sim, com a invenção. Os escritores já não se iludem: a literatura não é, e nunca foi, um espelho capaz de refletir, com nitidez e perfeição, o mundo real. Em que medida, no complexo, veloz e fragmentado século XXI, a literatura ainda pode – se é que um dia conseguiu fazer isso – dar conta da realidade?

20h A Crítica Biográfica e os Desafios da Ficção
com Italo Moriconi (Brasil), Leonor Arfuch (Argentina) e Marisa Lajolo (Brasil) | mediação Regina Zilberman
A valorização midiática da figura do escritor, aliada à profusão editorial de obras biográficas e autobiográficas, tem exigido da crítica contemporânea um reposicionamento diante das complexas relações entre vida e literatura, autor e obra, realidade e ficção. Que estratégias de abordagem têm sido usadas pela crítica no trato dessas questões? Até que ponto a vida de um autor serve como referência para a leitura de uma obra?


quinta 8


15h A Tradução como Crítica
com Berthold Zilly (Alemanha), Márcio Seligmann-Silva (Brasil) e Paulo Henriques Britto (Brasil) | mediação Marcelo Tápia
Tradução, crítica e criação são práticas interligadas. O ato de traduzir implica um diálogo crítico-criativo com outras culturas e com a própria tradição literária, interferindo também, de forma incisiva, no próprio fluxo da produção literária do presente. Em que medida, nesse movimento, a tradução reinventa também seus próprios conceitos e mecanismos de leitura? O que define a força crítica do trabalho de tradução?

17h30 A Crítica de Poesia em Tempos Digitais
com André Vallias (Brasil), Eduardo Sterzi (Brasil) e Marjorie Perloff (Estados Unidos) | mediação Lourival Holanda
O advento de novos suportes digitais tem possibilitado o surgimento de expressões poéticas cada vez mais híbridas, mediadas por diferentes relações entre texto, imagem, interatividade e vários recursos multimídia. Como a crítica de poesia tem lidado com essas mudanças? Em que medida ela tem criado novos procedimentos e fundamentos de abordagem e reflexão para lidar com as linguagens poéticas do mundo digital?

20h A Crítica Literária como Intercâmbio Cultural
com Antonio Gonçalves Filho (Brasil), João Cezar de Castro Rocha (Brasil) e Martín Kohan (Argentina) | mediação Luiz Ruffato
A crítica quase sempre desempenhou o papel de avalizadora da produção literária e, assim, serviu como parâmetro principal do intercâmbio cultural entre os países. Em tempos de rápida circulação de informações, a crítica literária ainda tem espaço para desempenhar esse papel? Se não, quais são os novos mecanismos disponíveis e quais as consequências da substituição da crítica literária por eles?


sexta 9

17h30 Crítica Literária Hoje: Impasses e Desafios
com Joan Ramon Resina (Estados Unidos), Josefina Ludmer (Argentina) e Luiz Costa Lima (Brasil) | mediação Sérgio Alcides
Os equívocos em torno da palavra crítica: se não é um gênero literário, o que pode ser? O crítico é um "juiz da arte", um mediador que facilita o acesso do público ou alguém que exerce uma reflexão sistemática sobre a obra literária? Qual é a validade da crítica hoje? Quais são seus grandes desafios e impasses?


20h Crítica e Interdisciplinaridade
com Aurora Bernardini (Brasil) e Mario Perniola (Itália) | mediação Ivan Marques
O entrecruzamento de diversos saberes e campos disciplinares tornou-se uma das linhas de força do cenário crítico contemporâneo. Como a crítica literária tem lidado com essa flexibilização de fronteiras, abrindo-se ao diálogo e às interseções com outras formas de conhecimento, como a filosofia, os estudos culturais, a sociologia e a política? E até que ponto a prática da interdisciplinaridade tem redimensionado o papel da crítica literária hoje?


Itaú Cultural – Sala Itaú Cultural (247 lugares) | Avenida Paulista 149 – Paraíso [próximo à Estação Brigadeiro do Metrô]

informações: 11 2168 1777 | youtube.com/itaucultural | twitter.com/itaucultural | facebook.com/itaucultural | atendimento@itaucultural.org.br | itaucultural.org.br

jueves, 22 de septiembre de 2011

Palestra de Ricardo Piglia


Na Livraria Cultura da Paulista
dia 26/09 (segunda-feira)
às 20hs.

Mais informações:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/eventos/resenha/resenha.asp?nevento=23978

viernes, 2 de septiembre de 2011

VI Encontros de Interrogação

quarta 7 a sexta 9 de setembro

entrada franca - ingressos distribuídos com meia hora de antecedência

quarta 7

17h O que Faz um Autor Diante do Próprio Silêncio?
com Adriana Lunardi, Daniel Galera, João Anzanello Carrascoza e Marçal Aquino
mediação Marcelo Moutinho

O que representam, para um escritor, os momentos em que ele não escreve – em viagens, em contato com outros autores e leitores, participando de palestras ou mesmo imerso em leitura? A pausa na produção angustia ou auxilia o processo criativo?

sala vermelha 70 lugares

18h30 Escrever É Apenas Narrar?
com João Silvério Trevisan, Joca Reiners Terron, Nelson de Oliveira, Paulo Scott e Rubens Figueiredo
mediação Paulo Werneck

A representação do real ainda tem espaço na contemporaneidade ou contar uma história já não é mais contemporâneo? Qual é o espaço da narrativa num momento em que, ao que parece, a forma precisa ser constantemente reinventada?

20h A Literatura de Lygia Fagundes Telles – Uma Homenagem
com Lygia Fagundes Telles, Fabricio Carpinejar, Marcelino Freire e Maria José Silveira
mediação Flávio Carneiro

O que é literatura? Hoje, mais do que nunca, a pergunta faz-se necessária, pois escritos de diversas naturezas ganham status de trabalho literário, mas não se sabe muito bem o que é joio e o que é trigo. A literatura com L maiúsculo sofre alguma ameaça quando os critérios de julgamento parecem cada vez mais instáveis?

sala itaú cultural 247 lugares


quinta 8

15h Como as Intranquilidades do Mercado Editorial Interferem no Processo de Criação?
com Carola Saavedra, Frederico Barbosa, Luiz Ruffato e Ronaldo Correia de Brito
mediação Flávio Moura

Como acontece o approach com um editor? Blogs e afins se firmam como espaços nos quais autores postam obras à revelia de um julgamento prévio. Postar ou publicar? Por onde caminham os autores em busca da consolidação profissional?

sala vermelha 70 lugares

16h30 As Intranquilidades Diante da Primeira Página: Como Atravessá-la sem Desistir?
com Fernando Bonassi, João Paulo Cuenca, Luiz Vilela e Paloma Vidal
mediação Claudiney Ferreira

Aquelas questões, tão antigas quanto atuais e eternas: como se dá o primeiro risco na página em branco – inspiração, leitura, pesquisa? Como e onde buscar as primeiras palavras, os temas e as reflexões? E quando a insegurança bate forte e o que se escreveu vira rascunho descartado? O que se foi merece ser revisitado?

sala itaú cultural 247 lugares

18h Qual É o Espaço da Crítica de Ficção e de Poesia Hoje?
com André Vallias, Claudio Daniel, Claufe Rodrigues e João Cezar de Castro Rocha
mediação Marcos Strecker

Qual é o papel, e como se dá a formação, do crítico literário brasileiro? Pode-se associar a suposta crise da literatura a uma crise da reflexão crítica? Quais são os espaços abertos à reflexão existentes hoje no Brasil?

sala vermelha 70 lugares

20h Como Nasce uma Obra Quanto ao Gênero?
com Ivana Arruda Leite, Maria Esther Maciel, Michel Laub e Regina Dalcastagnè
mediação Luís Antônio Giron

Quando uma obra é um romance? Quando algumas frases viram um poema? Prosa, poesia: esses termos ainda têm o mesmo sentido de antes? Como se dá o enquadramento de determinado texto dentro das tradicionais classificações literárias? As novas plataformas criam outros gêneros?

sala itaú cultural 247 lugares


sexta 9

15h Vamos Subverter a Geografia Literária?
com Cíntia Moscovich, Claudia Roquette-Pinto, Ferréz e João Filho
mediação Mário Hélio Gomes

Como os autores marginais se centralizam e vice-versa? Como chegar a públicos diversos? Ou ainda: o que significam, hoje, esses termos? O que é margem e o que é centro?

sala vermelha 70 lugares

16h30 Quais São os Limites entre a Biografia e a Ficção?
com Bartolomeu Campos de Queirós, Micheliny Verunschk, Miguel Sanchez Neto e Tatiana Salem Levy
mediação Claudia Nina

Quando o que se deseja é a confissão, como fazer isso o mais literariamente possível? Quais são os limites entre o que é ficcional e o que é biográfico? O que é autoficção?

sala itaú cultural 247 lugares

18h A Literatura Infantil e Seus Passos de Gigante: A Quantas Anda o Gênero no Brasil?
com Eva Furnari, Leo Cunha, Marcia Camargos e Marisa Lajolo
mediação Suzana Vargas


Como a literatura infantil no Brasil se renova a partir de sua tradição? Existe uma tendência internacional seguida por autores nacionais? Há critérios claros que separam a ficção adulta da ficção infantil?

sala vermelha 70 lugares

20h Mesa de Encerramento
com Beatriz Resende, Cristovão Tezza, Florencia Garramuño e Lourival Holanda
mediação Manuel da Costa Pinto

Nesta última mesa, serão debatidas as declarações e ideias lançadas pelos escritores, críticos, pesquisadores e jornalistas que participaram desta edição do Encontros de Interrogação.

sala itaú cultural 247 lugares


Itaú Cultural | Avenida Paulista 149 - São Paulo SP [próximo à Estação Brigadeiro do Metrô] | informações: 11 2168 1777 | atendimento@itaucultural.org.br | itaucultural.org.br | twitter.com/itaucultural | youtube.com/itaucultural | facebook.com/itaucultural

Sobre Del cielo a casa


por Martín Kohan

Hay libros que se escriben con sucesos. Los de Hebe Uhart se escriben con sucedidos. Es decir, se escriben con cosas que a la autora le pasaron o le contaron, sin requisitos de grandiosidad. No se trata de una mera disposición autobiográfica, sino de la convicción, que en Uhart es notoria, de que no existe escritura hasta que no existe encarnadura en la experiencia. Por eso dice de un cuento como “Él”, que está en Guiando la hiedra: “lo pude escribir recién cuando perdí las ilusiones adolescentes”. Y algo parecido de otro cuento, “¿Cómo vuelvo?”: “cuando a mí me empezó a pasar lo que le pasaba a esa señora, recién ahí lo pude hacer”.
Esta disposición no es inusual, ciertamente, y es incluso bastante reconocible; pero en Uhart adquiere, sí, cierto matiz menos frecuente. Quienes escriben desde sus experiencias tienden a multiplicar esas experiencias. Y quienes asimilan la literatura al mundo existente tienden a ampliar las fronteras de ese mundo. Pero Uhart no. Uhart en cambio dice: “Es muy circunscripto el mundo mío”. Y de inmediato agrega: “Yo no soy aventurera”. La suya resulta entonces una literatura de la experiencia, pero de una experiencia atenuada, de baja intensidad, una experiencia siempre módica (tal vez por eso su literatura podría admitir, en este sentido, el atributo de minimalista. Es Uhart quien no lo admite: “¿Quién dictamina para escribir las cosas que son mínimas o máximas? No hay jerarquía de lo que es importante para escribir. La importancia se la da el que escribe”).
Porque en la base de sus narraciones está la experiencia, en Del cielo a casa abundan los cuentos cuyo tema es un viaje (viajes a Alemania, a una pequeña ciudad de la provincia de Buenos Aires, a la frontera de Uruguay con Brasil, o el viaje de un holandés a la ciudad de Buenos Aires). Se esperaría entonces la secuencia característica: viajar, vivir, contar. Pero los que viajan en estos cuentos, viajan queriendo volver, esperando volver, porque el gusto del viaje es volver para encontrar todo distinto (“la casa distinta”, dice Hebe Uhart, dejando ver que en su propia casa transcurre la parte de los viajes que más le agrada: “me gustaría tener el don de la bilocación”). Mientras viajan, es menos lo que viven que lo que observan (como Felisberto Hernández, al que Uhart señala como su referente, que “no hace más que mirar y mirar”). Viajan y viven, por lo tanto, y luego cuentan; pero viajan incómodos y viven mirando, y lo que cuentan está por eso impregnado sobre todo de contemplaciones, de observaciones agudas, de leves o no tan leves descolocaciones, de inadecuaciones discretas, desajustes cotidianos, el lento incordio de las cosas que cambian (igual que en Mudanzas, una novela donde no hay viajes pero sí paso del tiempo, y con el paso del tiempo, cambios lentos pero inexorables).
Cuando Hebe Uhart habla de los textos que escribe, uno puede percibir lo mismo que se percibe en esos mismos textos: que le importa poco, o nada, hacer alguna distinción entre la literatura y la vida. Uhart se inclina por comunicar ambas cosas de la manera más fluida, como si estuviesen en una relación de plena continuidad; o aún más: como si se tratase de un solo mundo. Escribe sus relatos con cosas que han pasado, con sucedidos, y luego, al hablar de esos relatos, para el caso de los que integran Del cielo a casa, entrevera sin sentir ningún salto las anécdotas reales y las referencias a la elaboración de los cuentos: lo que ha vivido y lo que ha escrito. Hablar de “Congreso”, por ejemplo, el texto donde se cuenta el viaje a Alemania, es para ella lo mismo que hablar del propio viaje (“Yo me llevaba mejor con los uruguayos”), y así puede uno calcular que, de la misma forma, en la vivencia del viaje ya se encontraba de alguna manera el cuento.
Estos pasajes, que a otros les llevan mucho tiempo, o muchas páginas, Hebe Uhart los resuelve de un tirón. Y es que ciertamente escribe de un tirón. Su método consiste en pensarlo todo muy bien antes, porque “es difícil arreglar lo que salió mal; tiene que estar bien estructurado de arranque”. Prefiere no tener que resolver sobre la marcha, ni tener que corregir después: si sale bien, queda; si no, se descarta (la metáfora que prefiere para definir la escritura de un texto no es la más habitual, y la refrendada por la etimología, del texto como tejido. Uhart prefiere la imagen del corte de un vestido: si sale bien, sale bien de una vez, y si no sale bien, hay que tirarlo todo. Arreglo no tiene).
Hebe Uhart evidencia un entusiasmo particular al ilustrar esta tesitura con un modelo que no pertenece al mundo literario (“yo soy como un escribano de La Plata, que decía: yo Tribunales no hago. Yo pienso todo bien antes, y después salgo un solo día a hacer todo lo que tengo que hacer”). Y es que esa no pertenencia de alguna manera la define. Varios de los personajes que aparecen en Del cielo a casa (escritores, escritoras, conferencistas, poetas de pueblo o de provincia) manifiestan un mismo sentido de la inadecuación: no se adaptan ni se ubican, no ya dentro de la vida cotidiana, sino dentro de la vida literaria. No encajan y por no encajar van quedando progresivamente aislados (les pasa con el mundo literario lo mismo que con los lugares a los que viajan: no se pueden integrar). De esa misma manera se define Uhart: “En el mundo literario hay mucha rivalidad, hay mucha exposición. Y a mí no me gusta pelear, yo no compito”. Provenir, como proviene, del campo de la filosofía, le abre otras posibilidades: “En filosofía está menos expuesta la persona. Baja el nivel de competitividad: reconocer que otro sabe más que yo parece más fácil que reconocer que otro escribe mejor que yo”.
Cierto repliegue personal practicado por Uhart no es ni siquiera una estrategia. Es una disposición de ánimo y hasta cierto punto una precaución contra la envidia (“Yo debo tener miedo de la envidia ajena. Miedo de que se enojen conmigo”). Es decir que no solamente no incurre en esa actitud, por lo demás tan frecuente, de anteponer la figuración personal del escritor a la significación de lo que escribe, sino que tampoco apela a un bajo perfil tan artificial como calculado. Sencillamente (no es que sea sencillo, pero llega a parecerlo cuando ella habla de lo que le pasa y de lo que escribe con lo que le pasa), Uhart deja que su literatura transcurra entre la vida y la escritura, y hace a un lado tanto las veleidades personales como el destino de los libros ya publicados (algunos de ellos se consiguen: los de Simurg, Señorita y Guiando la hiedra, o Mudanzas, reeditado por Mondadori; otros son inhallables; otros hay que rastrearlos en librerías de viejo, donde la propia Uhart alguna vez los ha comprado y alguna vez los ha vendido).
Hebe Uhart puede desprenderse sin gran esfuerzo de sus libros, de los que lee y de los que ha escrito, tal como se desprende de los textos que no le salieron bien de movida o de los mustios brillos del mundo literario. La literatura de Hebe Uhart responde así a una motivación, siempre bien definida, que está en el mundo de la vida; de las consecuencias y de los efectos, sin embargo, parece desentenderse, dejarlos especialmente librados a los editores, a los lectores, a la suerte de los libros. Es marcado el entusiasmo con que habla de las cosas que ha escrito (lo que para el caso significa: la manera en que sucedieron las cosas sobre las que ha escrito). Sobre todo lo restante, en cambio, es como si dijera: “preferiría no hacerlo”.

viernes, 29 de abril de 2011

Um golpe de ar

por Karl Erik Schøllhammer

O começo da leitura de Golpe de Ar (Editora 34) é sedutor pela agilidade rítmica do texto e por uma feliz combinação entre o humor discreto e a minúcia descritiva. “É um romance de poeta”, promete a orelha de Alberto Martins; a brevidade dos capítulos e o bate-estaca das frases curtas e precisas de fato indicam o aproveitamento da economia lírica em prol da narrativa ficcional. Sem dúvida o romance adquire uma leveza incomum e com um enredo simples e direto o texto de Corsaletti logo ganha pontos. O narrador traz o leitor para a história in medias res - depois de 4 meses em Buenos Aires um jovem poeta paulista encontra a menina Lis na Entrada do Museu de Bellas Artes e a partir desse encontro a história se tece pelos relacionamentos do narrador com um grupinho de amigas brasileiras que flanam pela capital argentina e introduzem um sugestivo repertório de figuras e espaços portenhos pela ótica de marinheiros de primeira viagem em suas descobertas de bairros, ruas, praças, bares e cafés. Nada de muito importante acontece ao longo do relato que se apóia sobretudo na valorização das miudezas cotidianas de alguém tenta se situar numa nova cidade sem as pesadas demandas de sobrevivência, explorando a graça dessa falta de compromisso e a disponibilidade do jovem viajante.

Golpe de Ar é o primeiro romance de Corsaletti, poeta paulista autor de quatro livros de poesia recentemente reeditados em conjunto pela Companhia das Letras sob o título Estudos para seu corpo. Sua estréia na prosa dialoga com várias tendências na ficção brasileira contemporânea; a combinação entre a referencialidade do “eu” em novo formato auto-ficcional e uma certa introspecção antropológica em que a experiência do outro funciona como pretexto para a meditação existencial sobre o contemporâneo são estratégias narrativas que ganharam popularidade e incentivo comercial no projeto amoresexpressos da Companhia de Letras que já produziu romances de Daniel Galera, Bernardo Carvalho e Luiz Ruffato. Apesar de Golpe de Ar não fazer parte desse incentivo criativo é uma tentação ver no seu romance a adesão a situação do viajante como uma espécie de exotismo invertido do Brasil globalizado agora emissor de frotas de turistas e de artistas nômades para todos os cantos do mundo enquanto antes era o alvo do olhar estrangeiro. Nada de ilegítimo nessa experiência, e no caso do romance de Corsaletti ela se conjuga a reencenação da figura do poeta boêmio à procura da poesia da vida no exercício do prazer incondicional ou na fuga do modelo de uma vida pequeno-burguesa. “Eu tinha ido pra Buenos Aires pra não ser obrigado a ser feliz todos os dias. Lá eu poderia ser feliz duas ou três vezes por semana, ser muitíssimo feliz uma ou duas vezes por semana e passar o resto do tempo fazendo coisas inúteis, como reclamar da dor que tinha voltado no meu ombro esquerdo ou falar espanhol capenga com os frequentadores do Barra de los Amigos, um bar quase na esquina da Libertador com Callao.” (11) Assim a narrativa se compõe de trivialidades com uma riqueza detalhada de lugares e encontros em Buenos Aires como um pequeno guia especialmente feito para o jovem visitante em busca de diversão na noite porteña, matéria prima para um enredo que se costura nas intimidades frágeis entre um grupo de jovens de vinte a vinte e poucos anos na licenciosidade de uma viagem – talvez a primeira - para o exterior. Corsaletti domina a carga poética dos pormenores da convivência crua entre as pessoas e o romance consegue criar uma promissora tensão erótica entre os personagens que no entanto nunca realmente se concretiza, as vezes dando a impressão de uma versão singela e soft das experiências hard dos personagens beatniks. O que resulta estranho no avançar da história é que o autor se satisfaz rapidamente com um cenário urbano reduzido e não investe ficcionalmente no interessante elenco de personagens introduzido, o romance acaba por padecer desse pouco interesse em aprofundar o descobrimento de uma Buenos Aires mais desafiadora e de personagens e diálogos que acabam por se tornar pouco instigantes. Assim nem os encontros com os argentinos nem a crescente intimidade com o grupo de meninas que desviam o curso da viagem do narrador conseguem provocar algum impacto maior ou mudança na sua vida e a história se mantém o tempo todo no mesmo nível de inocência. Há uma curiosa falta de vontade ficcional diante do alcance da narrativa. Corsaletti perde a chance de se lançar na aventura da exploração imaginativa e criativa, abandonada a favor da pequena crónica do viajante. Não se interessar pelo desafio modernista das formas ficcionais nem pela procura pelos limites da própria expressão literária pode não ser um problema e até um alívio não ter de lidar sempre com o peso de um projeto demasiado motivado pela ambição literária ou pela preocupação engajada nos problemas do mundo. Mas é estranho esse aparente contentamento com o registro circunstancial – que funciona muito bem na sua poesia - abrindo mão do gesto romanesco logo depois de despertar o interesse do leitor. Golpe de ar não chega a oferecer o aturdimento de uma aventura poética na prosa, - como em Cocteau de Les enfants terribles ou A motoclicleta de Mandiargues, por exemplo – nem tira maiores consequências do simpático estilo documental que põe em marcha. Ao leitor resta uma certa preguiça graciosa de um narrador nunca realmente afim de se revelar.

viernes, 1 de abril de 2011

A letra fulgurante e vermelha de Tununa Mercado


Narrativa contundente de escritora argentina tece uma memória do exílio
por Paloma Vidal

A primeira cena de Em estado de memória, da escritora argentina Tununa Mercado, exilada no México durante os anos de ditadura, é o encontro com um homem chamado Cindal, que na sala de espera de um consultório psiquiátrico busca ajuda desesperado: “Diga-lhe que faça alguma coisa por mim, que faça alguma coisa por mim! Tenho uma úlcera, uma úlcera!”. O apelo paralisa a secretária, o médico e os outros pacientes, entre os quais se encontra a escritora, que não sabem o que fazer diante dessa dor que irrompe fora da ordem estabelecida. A dor de Cindal vem “escurecer a vida dos outros e minar a plenitude a que todos têm direito”. Ela “traça uma letra fulgurante e vermelha”, detalha a narradora, condensando nessa imagem uma intensidade que bem poderia aludir à escrita da própria Mercado, ao se apropriar de experiências compartilhadas por muitos em situação de desterro para criar uma das narrativas mais contundentes da literatura latino-americana recente.
É uma singular apropriação, que se dá numa fronteira entre identificação e desprendimento. Ao longo das dezesseis partes em que se divide o relato, Mercado faz um exercício de se aproximar de certas sensações, pensamentos, lembranças que, embora provoquem nela uma estranheza radical, compõem um quadro próprio de vivências. Assim, na parte intitulada “A espécie furtiva” ela recupera um “vestígio” de história infantil desdobrado sutilmente em várias percepções que retornam em situações diferentes, ora na forma de “uma voz interior, levemente separada da minha própria, formando uma espécie de som-aura a seu redor”, voz que diz à narradora “uma verdade” a respeito de padecimentos não muito definidos, que ainda assim revelam sua fragilidade; ora na forma de uma imagem, como a de alguém que ela perdeu, cuja história “havia se tecido separada de mim e de minha circunstância; de maneira sigilosa, havia invadido meu interior, minha mente, minha alma e, de repente, sem anúncios prévios, começava a me fazer sofrer e me situava na carência”.
Desdobramentos similares a esses aparecem em vários outros momentos. Em “Visita guiada”, Mercado começa falando de alguém chamado Pedro, “refugiado espanhol, mas de difusa nacionalidade” que “grudou” nos exilados argentinos. Em seguida narra uma cena traumática que o tornara “um ser suscetível e obsessivo”: ele e sua mãe, uma judia alemã, haviam sido forçados a fugir de Paris na primavera de 1940, face à iminência da invasão nazista. Já na estrada, a mãe deixa o filho no caminhão que os transportava em direção ao sul para ir buscar água e mantimentos numa cidade vizinha. Diante de uma ameaça de bombardeio, o caminhão parte, separando-os. “Talvez se unisse a nós”, sugere Mercado, “porque a reprodução do vazio era o estado próprio do exílio: carência e compensação da carência, nudez e agasalhamento, mutilação e prótese”. O exílio de Pedro se sobrepõe ao dela e ao de outros argentinos, cuja condição por sua vez os levará a visitar freqüentemente a casa de Leon Trotsky, “o modelo máximo da maior tragédia e do desterro mais dramaticamente interrompido”. Mercado conta então como eram essas visitas e encerra o fragmento falando de uma “casa ‘paterna’ muito longínqua e imaginária que, saltando as décadas, transmigrava para me abrigar”.
A escrita vai desse modo tecendo uma memória que não é conciliadora ou compensatória, mas, citando a própria Mercado em Narrar después, livro de ensaios de 2003, “que se sofre por intempestiva, que nos desvela quando se eclipsa, que se exerce como um mandado ou se evita por auto-compaixão”. Esse tipo de trabalho mnêmico, que recupera certas “zonas escurecidas” ao invés da reproduzir o que já se cristalizou, exige uma escrita capaz de afrontar materiais que pareciam destinados ao silêncio, um ato de tessitura que se faz por superposição de camadas de sentido, desdobradas umas de outras, para dar conta desse estado singular, um “estado de desvalia” em que o sujeito se expõe em sua máxima vulnerabilidade.
Na parte “Alvéolos”, Mercado descreve com minúcia um efeito de angústia provocado por superfícies perfuradas, buracos idênticos, um do lado do outro ou em profundidade, como as corolas das flores ou os feixes de fungos, casos em que não é possível distinguir claramente os limites dos corpos, onde o vazio e onde o cheio. Às vezes mais do lado da sensação; outras como um pensamento que se desenvolve no limite do impensável; outras, ainda, como algo que está entre a sensação e o pensamento, “incontrolável e imponderável”, que não pode ser propriamente pensado, mas tampouco é apenas sensação. Não há melhor exemplo do método usado por Mercado para construir seu relato do que esse “efeito alvéolo”, quando ela se entrega às descrições que avançam mais e mais e mais, provocando no próprio leitor o desassossego de algo que não tem fim, ameaçador, que prolifera sem que se saiba aonde vai dar, chegando a abarcar “a realidade inteira”.
Finalmente, da descrição proliferadora que beira à abstração surge uma imagem real do abjeto: “Um dia, depois do regresso à Argentina, decidi rastrear, a qualquer custo, as zonas proibidas da memória”, antecipa Mercado. Talvez aqui esteja sintetizado o projeto deste livro tão admirável e comovedor. Rastrear, a qualquer custo; pôr-se, corajosamente, nesse estado de disponibilidade, para descobrir, no percurso da escrita, que a sensação perturbadora provocada pela visão dos alvéolos pode levar a uma imagem apagada do terror: “Corpos amontoados e mortos; corpos alinhados dentro de fossas, chamadas, com pertinência, de fossários; entranhas de uma câmara de gás expostas num corte transversal (a porta foi aberta); colunas de um desfile militar nazista, os capacetes redondos vistos de cima, enfileirados, em sua caixa retangular e quadriculada”.
Mas se trata, também, de que a escrita possa aplacar o terror, contê-lo, para criar um espaço de acolhimento, uma nova casa a partir dos restos e vazios deixados pelas experiências traumáticas do passado. Então o livro refaz, assim como o do exílio, o caminho do retorno, e com ele traça a possibilidade de que essas experiências possam por fim se inscrever na superfície do papel.

domingo, 6 de febrero de 2011

Resumo de Lorde

Em Lorde, por um desconhecido motivo, além de ter escrito sete livros prestigiados lá fora, o narrador-personagem é convidado a embarcar numa aventura rumo a Londres para representar o Brasil. Aceitando a proposta, o narrador começa a fazer uma aventura perturbadora.
Desconfiando do real motivo daquele convite, tendo de viver numa casinha cedida por um vietnamita, a personagem começa a enfrentar dilemas acerca de si mesmo e de suas lembranças. Inicialmente, recorre a artifícios estéticos para atenuar o efeito do tempo em seu rosto. E lentamente o seu país natal vai se transformando em abstração. Durante toda a narrativa, o escritor vai se metendo em situações – psicológica e fisicamente – degradantes. Trava contato com Mark, um professor que sugere momentos de prazer, mas há a recusa. E o desabamento. Ao percorrer a esmo a cidade noturna, presencia a morte de um rapaz em seus braços, conservando o sangue de seu corpo ainda consigo num cachecol. Naquele momento, o da morte, o abraço é o instante sublime, profundamente sentido, pois já nasce através de um corpo sem vida: abraço natimorto.
Logo em seguida o narrador se refugia num quarto de prostituta e, ao invés de atenuar as pulsões sexuais, ele simplesmente se deita nas pernas da senhora e ali permanece, até o momento em que parte e vai dormir numa igreja. Há, nesse momento, uma renúncia de si mesmo, que há muito perdido, inconscientemente busca reações num outro: ele dança na praça a fim de provocar olhares alheios.
Perdido e sem rumo, a personagem percorre Londres, tenta buscar um motivo para ali estar, porém aceita submisso o que o seu boss, o inglesinho, lhe diz. Toda a narrativa é tecida de mistério, o escritor transfigura-se, evita olhar-se no espelho, temendo reconhecer um alguém que não mais existe. E, ainda, para desestruturar o romance, o motivo que o levou à Londres, o inglês, se joga nas águas do rio Tâmisa. No entanto, só o que se percebe na sensação do brasileiro é apatia: o corpo do inglês boiando nas águas como um pedaço de nuvem no céu.
Visando fugir, o escritor parte rumo à Liverpool. Para tal feito, o brasileiro realiza um furto na estação de trem e, conseguindo uma carteira recheada de dinheiro, se hospeda num caro hotel na cidade.
No deslocamento de território, as esperanças são reacendidas, pois uma professora da Universidade da Cidade de Liverpool o convida para lecionar aulas de língua portuguesa. Aceitando com entusiasmo, acreditando ter se encontrado naquela situação, ele vai a um bar e conhece George, homem com quem mantém relações sexuais. Mas, seguida aquela noite, ao despertar, não há mais George: há um semblante que fita o espelho, atônito, pois poderia ser ele mesmo o tal do George. Uma profunda esquizofrenia, enfim. Em linhas finais, o único repouso, o sono vingado, é realizado num cemitério desativado. Assim encerra-se a narrativa.